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IGP-M, IPCA

Para responder à pergunta do título temos a clássica resposta-pergunta de todo economista: “Depende?”, mas depende de que? Depende se é para corrigir um valor que teremos a receber ou a pagar.

O principal objetivo deste artigo é subsidiar os leitores para uma melhor escolha entre estes dois índices de inflação para 2023, e muito provavelmente nos próximos anos, de acordo com sua exposição/necessidade. Dado que observamos um grande descolamento entre o IPCA e o IGP-M nesses últimos três anos, podemos fazer uma estimativa para o futuro, pois o descolamento é relevante e aparentemente o movimento de correção apenas está começando. Para tanto teremos dois pontos a serem analisados o próprio descolamento em si, e porque deve ser corrigida a diferença entre os dois índices que levaram a esse descolamento.

A divulgação do IPCA acumulado em 2022 de 5,79%, superior ao IGP-M de 5,45% causou certa surpresa em muitas pessoas que se acostumaram a observar um IGP-M muito mais alto que o IPCA, muitas destas chegaram a trocaram o índice correção de seus contratos após as fortes altas do IGP-M.

Temos acompanhado o descolamento entre IGP-M e IPCA que se iniciou em janeiro de 2020, com o início da pandemia, vejam:

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Acima temos os gráficos de linhas, azul e verde, dos acumulados do IGP-M e IPCA respectivamente, desde janeiro de 2004; e o gráfico de área, marrom, onde temos a diferença entre estes acumulados. É nítido o grande descolamento que iniciou em janeiro de 2020 e persiste até o presente.

Observamos ao longo do período de 2004 a 2018 que o IGP-M em alguns períodos apresentou um leve descolamento, subindo um pouco mais que o IPCA, mas logo esse descolamento é reduzido. De uma maneira geral é observado nesse período que ambos andam juntos, o que faz bastante sentido, pois como índices de inflação estes têm o objetivo de medir a queda do poder de compra da moeda, que é a mesma o Real (R$).

O início do movimento mais abrupto de descolamento vem com a pandemia, início de 2020, que causou vários impactos na economia, alguns desses impactos se dissiparam rapidamente no curto prazo com o fim da pandemia, mas outros estão atrelados a mudanças de comportamento e de percepção de riscos e deverão ter uma duração prolongada.

Naturalmente a essência da diferença entre o IGP-M e o IPCA vem da forma de cálculo de cada um, e o objetivo de cada um, segue um brevíssimo resumo:

IGP-M: como seu próprio nome diz é um índice geral de preços, ou seja, visa ser uma medida de inflação amplo para todos os agentes da economia. Seu cálculo é uma média ponderada de 3 outros índices de inflação IPA 60%, IPC 30% e INCC 10%. Ele é calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) que é uma instituição privada. O IGP-M sofre um impacto muito maior das oscilações do dólar que o IPCA e tende a ser mais rápido que o IPCA na captura de oscilações de preços.

IPCA: é calculado pelo IBGE e visa medir a oscilação de preços de uma cesta de consumo das famílias com renda de 1 a 40 salários-mínimos, é um índice dedicado ao consumidor.

Existem diversas outras diferenças entre os dois índices, mas o que gostaríamos de deixar evidenciado é que o IGP-M é um índice geral, fortemente impactado pelo dólar e pelos preços do atacado que afetam as indústrias, enquanto o IPCA é fortemente ligado ao consumo das famílias.

A diferença entre eles pode ser compreendida de um outro ângulo: o IGP-M mede a variação de preço compreendendo todas as etapas de um produto da fabricação até a venda, enquanto o IPCA mede apenas a variação dos preços finais de venda.

Temos a percepção que dois impactos causados pela pandemia na produção de bens têm tido um efeito prolongado e são a essência do descolamento.

O primeiro é a quebra das cadeias produtivas que tem demorado muito mais do que o estimado inicialmente para serem reestabelecidas, e impactaram fortemente os custos de produção e por consequência impactaram fortemente o IGPM. Convêm salientar que um participante relevante da indústria de componentes é a China, que ainda está numa fase aguda da pandemia e tem contribuído fortemente com a lentidão no restabelecimento das cadeias produtivas.

O segundo é uma mudança um pouco mais profunda, e está ligada a percepção de risco, nas últimas décadas o movimento de globalização proporcionou grandes ganhos de eficiência, mas também elevou o risco das operações pois muitos bens passaram a ser produzidos com componentes de todo o mundo. Esse risco ficou muito evidente durante a pandemia e está sendo reavaliado pelas indústrias. Essa reavaliação de risco e por consequência reestruturação da gama de fornecedores gera uma redução na eficiência sendo assim inflacionária.

Em resumo: esperamos que em 2023 e nos próximos 2 a 3 anos o IGP-M seja menor que o IPCA, pois parte dos impactos acima listados irão se dissipar com o tempo e possibilitarão a correção do descolamento.

Recomendamos a leitura de um segundo artigo onde tratamos sobre como obter a projeção do IPCA que o mercado financeiro está operando: PROJEÇÃO DE IPCA 

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